quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Escandinávia (parte V) - Terceiro dia em Tromsø


Apesar de sempre programarmos nossas viagens com bastante cuidado e atenção aos detalhes, é difícil escapar de pelo menos alguma barca furada ao longo de todos os dias. Pois bem... Em nosso terceiro dia em Tromsø, recebemos logo DOIS enormes carimbos da FUNAI, dedicados os turistas que acabam caindo em programas de índio.   

O dia até que começou legal. Fomos a um interessante museu de fotografia e fizemos um passeio bem agradável pela cidade, onde vimos uma estátua de um pescador de baleias - nessa região pesqueira é comum encontrar estátuas em homenagem a essas profissões do mar. Também fizemos questão de procurar e conhecer o moderno prédio da prefeitura de Tromsø - o Bernardo adora uma prefeitura! 

Pescador de baleias

Prefeitura

Porém, quebramos a cara ao conhecer um dos cartões postais da cidade: a Catedral do Ártico.
 
Construída em 1965, a Catedral do Ártico (Tromsøysund kirke) é uma igreja de concreto de interessante arquitetura exterior. Antes de sairmos do hotel, perguntamos à recepcionista, uma simpática senhorinha, qual linha de ônibus deveríamos pegar para chegar à catedral. Ela insistiu que poderíamos ir à pé, afirmando que seria uma caminhada curta e que éramos jovens, seria tranquilo para nós! Desconfiamos dessa “caminhadinha”, hesitamos por um momento, mas nos convencemos de que, se aquela vovozinha caminharia até a igreja, nós também poderíamos fazê-lo.

Que arrependimento!! A caminhada "tranquila" consistia em atravessar uma ponte íngreme de 30 km (ok, na verdade é apenas pouco mais de 1km), totalmente aberta, debaixo de neve e muita ventania para chegar até a bendita igreja. Vale dizer que se trata da ponte principal da cidade, feita para carros atravessarem sobre o mar, com uma calçada lateral para pedestres malucos (no caso, nós). 

Nesse dia, descobrimos que é possível se sentir congelado e suado ao mesmo tempo. 

A ponte à esquerda com a Igreja ao final (triangular)

Apesar de bonita por fora, a catedral não tem nada de interessante por dentro. Só valeu mesmo para nos recuperarmos da caminhada e esquentarmos um pouquinho o corpo. Na saída, a alternativa era pegar um ônibus, já que a ponte da morte a pé estava descartada!



Catedral do Ártico por fora...
  
... e por dentro.

Pois bem... Esperamos 4 horas (ok... Uns 30 minutos) agarradinhos debaixo de ventania e nevasca, apesar da cobertura do ponto de ônibus, absolutamente ineficaz. Naquele momento, entrávamos oficialmente para a AISP (Associação dos índios sem programa), como diria minha mãe. Conquistamos o primeiro carimbo do dia! Mas sobrevivemos!!!

Tentando sorrir na saída da Igreja, com a fatídica ponte ao fundo.
De volta ao conforto do quarto, gastamos muuuuuito tempo tentando decidir se deveríamos pegar de novo uma excursão para a caça à Aurora. 

O tempo estava péssimo, os passeios são caros (por volta de US$150 por pessoa) e já tínhamos tido muita sorte na véspera, quando conseguimos ver uma bela Aurora Boreal - nossos guias avaliaram que, em uma escala de 0 a 10, aquela aurora recebera a nota 7, sendo que nunca haviam visto uma "nota 10", mesmo fazendo aquilo diariamente. Teríamos que ser muito sortudos para ter sucesso semelhante por duas noites seguidas... Será que valeria a pena arriscar? Por outro lado, viajamos até o fim do mundo com o objetivo de ver as luzes. E queríamos vê-las o máximo que conseguíssemos. Era o propósito da viagem! Não fazia sentido passarmos a noite no hotel...

Então decidimos sair à caça mais uma vez. E pronto! Segundo carimbo da FUNAI garantido!
    
Escolhemos uma outra agência para essa segunda tentativa. Contratamos uma senhora muito simpática e sorridente (a Karina, da Scan Adventure) com quem havíamos trocado emails desde que ainda estávamos no Brasil. Ela leva um grupo menor de turistas em um micro ônibus.


Com o dilema "caçar ou não caçar" acabamos decidindo de última hora e saindo às pressas para nos encontrar com a guia. Para não nos atrasarmos ainda mais (feio, né?), o Bernardo correu em um delivery próximo para comprar uma pizza, que levamos pra van e fomos comendo no caminho (super sem graça com o cheiro de muçarela e orégano que se espalhava pelo carro). A gente detesta incomodar as pessoas, então nosso desconforto começou aí.

Então partimos estrada a fora para ver neve, neve e mais neve. Em determinado momento fizemos uma parada em uma espécie de estacionamento para atacar o lanchinho que nossa guia havia preparado - bolos, café, chá e chocolate quente - e esperar um pouco para ver se o tempo melhorava. Depois seguimos em frente e, por fim, havíamos dirigido por mais de 7 horas em busca de um céu claro, mas não chegamos nem perto disso. 

Tivemos muita pena do grupo que estava conosco na van. Eram senhores e senhoras munidos de câmeras fotográficas com tripés enormes voltando pros seus hotéis absolutamente frustrados. Chegamos ao nosso quarto de madrugada, sem fotos ou suspiros. Fazer o que... Poderíamos arrepender se não tivéssemos tentado.

Escandinávia (parte IV) - A Aurora

SEGUNDO DIA EM TROMSØ

A Aurora Boreal é um fenômeno complicado de se entender. Em poucas palavras e termos leigos, vamos tentar resumir:

Quando os ventos solares chegam até a Terra, são atraídos para os pólos magnéticos e colidem com a nossa atmosfera. Essa colisão excita as partículas dos ventos, o que cria uma reação que emite luz. Assim, o fenômeno está acontecendo o tempo todo, mas só nas condições e locais ideais conseguimos enxergá-lo. 

Tromsø tem esse "o" cortadinho e charmoso e é a oitava maior cidade na Noruega, com 70 mil habitantes, sendo a maior área urbana do norte do país. É uma cidade universitária, com grande número de jovens.

(fonte: Wikipedia)

(fonte: Wikipedia)

Graças à sua localização (acima do círculo polar ártico), além de ser um dos melhores lugares do mundo para se ver a Aurora Boreal, a cidade é também um ótimo ponto para presenciar um outro fenômeno natural interessante: o sol da meia-noite. Entre o final de abril e meados de agosto não escurece completamente em momento algum e o sol pode ser visto acima da linha do horizonte à meia-noite entre maio e julho.

Por isso foi importante escolher a data para nossa caça à Aurora com muito cuidado. Escolhemos março, já no final do inverno, mas ainda com escuridão suficiente.

Em plena luz do dia, obviamente é impossível conseguir ver qualquer sinal das luzes. Sendo assim, durante nosso segundo dia na cidade fomos bater perna por "Trumsá" (descobrimos que essa é a pronúncia em norueguês. Achamos muito feia e continuamos falando "Tromso" mesmo).

Fomos caminhando até o Polaria, uma espécie de museu, que é uma das principais atrações da cidade. O prédio tem um formato muito interessante, que representa blocos de gelo gigantes derrubados pelo mar do ártico. Lá encontramos atrações distintas. As mais interessantes são um enorme aquário com leões marinhos e focas amestrados e um cinema com tela de 180° mostrando a vida no ártico e o fenômeno da aurora boreal.

Polaria


Voltando do passeio, fomos procurar uma excursão para tentar ver as "northern lights" naquela noite. Existem várias agências na cidade e até guias independentes que levam os turistas para a caça. Uma curiosidade é que, diante de tantos obstáculos, os profissionais usam mesmo a expressão "caça", como em "aurora hunting". As agências monitoram constantemente as condições climáticas em toda a região e também a atividade solar para tentar prever a intensidade das luzes e o melhor ponto para vê-las.

Segundo a propaganda que fazem, os guias não medem esforços para que os turistas consigam se deslumbrar com a Aurora. Dizem que, se preciso, dirigem centenas de quilômetros, podendo chegar na fronteira com a Finlândia para conquistarem o objetivo. Mas sempre alertando que se trata de um fenômeno da natureza e não podem nunca garantir que vamos conseguir ver as luzes...

Pois bem... Encontramos uma agência bastante profissional chamada NorthernShots Tours, de uns italianos, que nos convenceram de que aquela noite seria uma boa pedida para a caçada. O guia reiterou que não poderia garantir (sim, ouvimos isso muitas vezes), mas pelas previsões, aquela deveria ser uma das melhores noites da última semana para tentar a sorte.

Por volta das 18h, depois de vestirmos 5 camadas de roupa cada um, fomos ao ponto de encontro da excursão, onde havia 4 ônibus (!!!) aguardando os turistas. 

Embarcamos, cruzamos os dedos e saímos pela estrada. O tempo estava péssimo e por dezenas de quilômetros só víamos neve no pára brisas do ônibus! Era muito desanimador...

O guia era também fotógrafo (a empresa vende fotos profissionais tiradas dos turistas com a aurora ao fundo) e foi explicando um pouco sobre a ciência por trás do fenômeno e dando dicas de como tentar registrar as luzes com nossas próprias câmeras - o que não é nada simples e a Bárbara estava disposta a tentar, munida de algumas anotações e uma câmera semi profissional.

O tempo foi passando e quando a gente menos esperava, um dos guias pegou o microfone do ônibus e anunciou que acabara de receber informações de que o céu iria abrir numa determinada direção há alguns quilômetros de onde estávamos. Iríamos parar em aproximadamente 15 minutos. Todos se animaram e comemoraram!

Em pouco tempo os ônibus encostaram na estrada e os guias nos informaram que ali seria o ponto onde deveríamos torcer para a aurora boreal aparecer. O que vimos ao descer do ônibus foi absolutamente impressionante. Um céu completamente limpo, sem nenhum sinal de nuvens, com a maior quantidade de estrelas que já tínhamos visto, sobre uma praia meio congelada. 

Como se não bastasse, fomos premiados com uma estrela cadente enorme cruzando todo o céu no exato momento em que olhamos para cima e nossos olhos se ajustaram à escuridão. Parece mentira, nós sabemos. Mas aconteceu.

Descemos para a praia enterrando as pernas até quase os joelhos na neve. A paisagem já era bonita o suficiente, mas ainda queríamos mais. Olhávamos para cima, por todos os lados do céu quando, em menos de 5 minutos, a Aurora Boreal começou a aparecer no céu da Noruega. Como uma névoa densa, as luzes do norte estavam ali, dançando na nossa frente.

Arriscamos algumas fotos amadoras e descobrimos, muito surpresos, que as luzes saem muito mais coloridas nas fotos. Aprendemos que nossos olhos enxergam menos cores do que a lente da câmera, por isso as imagens que vemos por aí tem cores mais intensas do que a realidade. 

Ainda assim, era lindo e fascinante. Ficamos naquele frio congelante por mais de uma hora observando o movimento das luzes no céu.

Essas foram algumas tentativas amadoras de registrar o fenômeno:





E essa foi a foto que compramos com a NorthernShots (clique para aumentar):



Voltamos para o hotel muito satisfeitos e realizados, já de madrugada, após algumas horas de estrada. Já estávamos fazendo planos para a caçada do dia seguinte...

Escandinávia (parte III) - Primeiro dia em Tromsø

Chegamos em Tromsø cheios de expectativa pela manhã. Durante o voo, já começamos a nos preocupar com o tempo: precisávamos do céu limpo para ter a chance de ver a Aurora Boreal. Mas quando o avião começou a descer, percebemos que estávamos atravessando uma grossa camada de nuvens densas, muita neve e névoa! Um inverno branco e cinza!

Já no aeroporto, descobrimos que a palavra “inóspito” foi inventada para descrever esse lugar. A impressão era que estávamos desembarcando em um deserto, no meio do nada. E a realidade é mais ou menos essa mesmo. 

Tromsø é uma cidadezinha que fica a mais de 1.500km ao norte de Oslo, a capital da Noruega, localizando-se acima do círculo polar ártico. O branco da neve dominava completamente a paisagem e fazia muito frio. O asfalto estava coberto de neve e era preciso ter cuidado para não escorregar até chegar no taxi, onde o motorista abriu o porta malas e nos mostrou onde deveríamos guardar nossas bagagens, deixando claro que não iria nos ajudar com o peso. Hahaha

Chegamos no hotel ainda meio espantados com a paisagem e com o frio que nos aguardava. Mais uma vez, nos equilibrando para não escorregar no asfalto molhado, chegamos ao Hotel Amalie. Os hotéis em Tromsø são bem caros (mais ainda do que em Bergen) e o Amalie foi um bom custo x benefício. Pequeno, mas aconchegante e bem localizado. Nosso quarto era pequenininho, mas com uma enorme janela de vidro, que era o “tchan” do lugar e nos dava uma vista muito simpática da cidadezinha.

Vista da nossa janela
Nesse primeiro dia fizemos apenas o “reconhecimento do gramado”. Passeamos pelas proximidades do hotel impressionados com a quantidade de neve nas ruas. Eram enormes camadas. No lugar que acreditamos ser a rua principal da cidade, começou um fenômeno que estávamos loucos para presenciar. Mas calma! Ainda não era a Aurora Boreal. (É beeem mais complicado encontrá-la). Estamos falando de uma nevasca - ou pelo menos era essa a nossa impressão! hahaha. Ficamos deslumbrados com aquela grande quantidade de flocos grossos que caíam e se acumulavam em nossos gorros e casacos. 

Os moradores que passavam por ali, apressados para se livrar da neve, observavam com cara de interrogação o casal aqui de braços abertos no meio da rua e às vezes até com a boca aberta (língua pra fora e tudo!) para tentar “comer” a neve que caía. Não estávamos nem aí. Amamos aquela experiência nova.






Depois de comer muito gelo e tirar muitas fotos, voltamos pro conforto do nosso hotel e ficamos horas (ok, vários minutos) observando aquela nevasca pelo janelão do nosso quarto. Era como assistir um espetáculo de camarote. Muito divertido observar as pessoas tentando esconder o rosto da neve que àquela hora vinha acompanhada de bastante vento. Mal sabíamos qua ainda passaríamos por situação idêntica dois dias depois.

Naquele fim de tarde, gastamos muito tempo tentando resolver se deveríamos ou não pegar uma excursão naquela noite para caçar a aurora boreal. Sabíamos que a condição climática era muito desfavorável para observar o fenômeno, que exige céu totalmente limpo. Por outro lado, e se o tempo continuasse ruim nos próximos dias? Depois de muita dúvida e debate (e muuuita neve na janela) optamos por não caçar a aurora naquela noite e contar com a sorte do dia seguinte, o que acabou se mostrando uma decisão acertada. Soubemos depois que nenhuma das excursões conseguiu encontrar um local com céu limpo para observar o fenômeno naquela noite.


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Escandinávia (parte II) - Os fiordes

TERCEIRO DIA - OS FIORDES

Segundo a Wikipedia, 

"Fiorde é uma grande entrada de mar entre altas montanhas rochosas. Os fiordes situam-se principalmente na costa oeste da península escandinava, onde são um dos elementos geológicos mais emblemáticos da paisagem, e têm origem na erosão das montanhas devido ao gelo."

Eles podem ter dimensões impressionantes, já que os paredões das montanhas podem atingir mil metros de altura e os caminhos criados pelo mar chegam a mais de 300 km de comprimento.

Quando o Bernardo mencionou que queria fazer esse passeio, eu não me empolguei muito. Mas bastou uma pesquisada pelas imagens do Google para que eu mudasse de idéia.

Os fiordes estão presentes em quase toda a costa norueguesa e na costa de diversos outros países (sobretudo na Escandinávia) e Bergen é um excelente ponto de partida para conhecê-los. Se vc der uma olhada no mapa da Noruega, verá como sua costa é toda recortada...

Ainda no Brasil, compramos um pacote chamado “Norway in a Nutshell” na agência online Fjord Tours. Não se trata de uma excursão, não é necessário um guia porque a graça toda do negócio é "só" a paisagem mesmo. Então a agência vende “kits” de passagens de transporte público de maneira organizada para o turista independentão (nós!). 

Existem formatos diferentes de passeios, onde você pode optar por dormir uma ou mais noites nas cidades do percurso, ou fazer o trajeto todo em um "bate-volta", que foi o nosso caso. Como quase tudo na Noruega, a brincadeira não é barata. Sai por volta de US$160 por pessoa, mas vale cada centavo. Cada. Centavo. Acredite.

Nosso passeio começou bem cedinho, quando saímos do hotel preparados para passar o dia todo viajando, com roupas quentinhas e a mochila abastecida de lanchinhos (lemos em algum blog por aí que não havia opções de lanchonetes pelo caminho - e era verdade).

Estação de trem de Bergen
Na estação de Bergen pegamos um trem - o primeiro de diversos tipos de transporte que nos aguardava - para a primeira viagem, que durou pouco mais de uma hora e já foi o aperitivo do que iríamos encontrar... 

Foi um trajeto lindíssimo, repleto de montanhas e mais montanhas cobertas por grossas camadas de neve. 

O vagão do trem com nossas mochilas
Primeira amostra do que estava por vir

Mais gelo e neve...
A primeira parada foi em uma cidade chamada Voss, mas não dá tempo de conhecer o lugar. É somente um "pit stop" de uns 20 minutos até sair o próximo transporte, dessa vez um ônibus. Nessa "rodoviária" encontramos um grande grupo de adolescentes animadinhos que traziam pranchas de snowboard e materiais de esqui. Tudo indicava que iriam participar de algum campeonato de esportes de inverno. Ficamos observando e pensando em como estávamos vendo uma realidade tão diferente da nossa, brasileiros...

A viagem de ônibus também durou cerca de uma hora e foi o trajeto menos turístico de todos. Percebemos nitidamente que estávamos viajando junto com trabalhadores locais, quando o ônibus fazia paradas em pontos totalmente inóspitos, em verdadeiro “deserto branco”. Vez por outra, o motorista dava informações em inglês, mostrando, por exemplo, uma caudalosa cachoeira... Congelada!


Cachoeira congelada



O ônibus nos levou até um vilarejo chamado Gudvagen, onde se iniciaria o clímax do passeio (apesar de já termos adorado tudo até ali). O cenário em Gudvagen é espetacular, já nós pés dos fiordes. Lá permanecemos por uns 40 minutos, encantados com a paisagem, tentando - em vão - registrar na câmera o que nossos olhos viam, enquanto aguardávamos o barco que nos levaria para um passeio inesquecível de mais de duas horas pelos fiordes noruegueses. 




O barco que nos levou pelos fiordes

Foram nessas duas horas que conhecemos os fiordes de verdade, num trajeto espetacular. Ora ficávamos na parte superior do barco, ao ar livre, em contato maior com a exuberância das montanhas e com o vento congelante, ora corríamos para o conforto das poltronas internas do barco com calefação, para observarmos a natureza através dos vidros. 

Além da beleza do lugar, era interessante ver (e escutar) o barco quebrando as enormes placas de gelo da superfície da água durante todo o percurso.

Tiramos inúmeras fotos e fizemos vários vídeos só para constatar que era impossível registrar a beleza que víamos pessoalmente. Além da natureza impressionante, ficamos surpresos e encantados de encontrar casinhas espalhadas pelo percurso. Elas pareciam construídas no meio do nada e ficávamos pensando como era a vida de seus moradores, tão isolados naquele paraíso gelado.

Ficou difícil reduzir o número de fotos para o post:








E então a parte mais esperada do passeio chegou ao fim, quando o barco atracou no vilarejo de Flåm. Nessa parada, havia uma loja grande de souvenires e um pequeno museu sobre nosso próximo transporte, a FlamRailway (ou Flåmsbana).

Esse percurso de 50 minutos foi surpreendentemente belo e agradável. Uma locomotiva estilo “maria-fumaça”, nos levou através das montanhas norueguesas, passando por pontes, inacreditáveis casas residenciais incrustadas no meio do nada (mais uma vez imaginamos como uma família vive um lugar tão inóspito) e uma cachoeira congelada tão espetacular que o trem faz uma parada para os passageiros descerem e admirarem de perto.

Na verdade, a informação que chegou até nós é que a cachoeira era linda e volumosa no verão e era uma pena que estivesse congelada. Pois pra nós, o maior atrativo era justamente vê-la naquele estado! Surreal!


O vagão do Flåmsbana
 

A nossa Maria-fumaça norueguesa
A cachoeira congelada


Esse agradável passeio de trem nos levou até Myrdal, a mais sem graça de nossas paradas, com lojinhas fechadas e infraestrutura pobrezinha pros padrões da Noruega.

Aliás, é bom relembrar uma importante informação pra quem quer fazer esse passeio: realmente há pouquíssimas opções de comida à venda durante o trajeto. Como já sabíamos disso pelas pesquisas que fizemos antes, fomos pra jornada munidos de sanduichinhos e snacks, que foram muito bem utilizados. As paradas entre um transporte e outro têm lojinhas de souvenires e produtos locais, mas não nos lembramos de ver restaurantes ou lanchonetes. Detalhe: é impressionante como são impecavelmente limpos (cheirosos mesmo!) e organizados todos os banheiros públicos das paradas anteriores.

Apesar de sem graça, a parada em Myrdal foi a mais longa. Tivemos que esperar bastante pelo trem que nos levaria de volta a Bergen, em uma viagem de pouco mais de 2 horas.
Começamos esse bate-volta de dia inteiro esperando que teríamos um dia bastante cansativo, devido a longa duração da jornada e às várias trocas de transporte. Mas surpreendentemente não foi. Com tanta coisa linda no caminho e paisagens tão diferentes da nossa realidade, o passeio terminou com gostinho de quero mais. 

Chegando em Bergen, ainda tivemos energia para caminhar até Bryggen para fazermos umas fotos noturnas antes de voltar para o nosso hotel. 

À noite, fomos a um barzinho meio pub, super local, tomar uma cerveja (Bernardo) e um vinho (Bárbara) e nos despedir da cidade. Bergen nos deixou uma ótima impressão e já fomos embora com vontade de voltar.

No dia seguinte acordaríamos cedo para pegar o vôo que nos levaria a Tromsø, uma cidade bem ao norte da Noruega, onde tentaríamos a sorte de conseguir ver a Aurora Boreal, sonho antigo da Bárbara e a razão principal da viagem pra esses lados. Mas isso é papo pro próximo post!